segunda-feira, dezembro 10, 2012


Estou cansado. Sinto-me realmente cansado e defraudado com a minha existência. Ou terei talvez que dizer que me sinto defraudado de viver nesta existência. Peno tentando ser só outro... ser um ser sem questões. Desespero igualmente perante a constatação de que a minha questão e reflexão são um problema para o meus pares. É qualidade inerente à maioria das pessoas ficar mais confortável sabendo o outro arrumado naquela rotulada gaveta mental da qual imaginam que nunca sairá. Reconheço hoje o aberrante esforço que fiz por parecer "normal". Esforço que culminou na criação daquilo (daquilo e não daquele) que sou. Tornei-me num monstro de adaptatibilidade, um camaleão, um ser que não existe. A minha mente molda-se e transforma-se numa outra a cada momento e todas falam comigo ao mesmo tempo... Não posso deixar de pensar: Serei Eu realmente o reflexo de tantos seres em mim, onde cada um parece ter personalidade e vontade própria? Terei eu uma vivência em tão dispares planos que não Me consigo realmente definir como pessoa? Será isto apenas um exemplo da multiplicidade do ser? Quem escreve estas palavras então? Quem é o ser que as escreve? Quem sou Eu? Uma mescla de todas as minhas identidades ou simplesmente, não sendo nenhum desses Eus que criam o Eu, não existo? Ortega y Gasset diz que "Eu sou eu e minha circunstância". O autor desejava exprimir a formação do Eu em toda a sua quase perfeita complexidade. Complexidade que caminha do Caos para Ordem e onde a Ordem é o Eu que se apresenta como pessoa. Esperei também encontrar-me ao tentar definir com clareza a minha circunstância, mas nada define mais o Eu do que "inconstante". “Eu não sou Eu na minha circunstância”. E tento não ceder à tentação de sugerir que “Eu sou Eu e as minhas circunstâncias”, pois por muito que ilustre a minha intenção corro o risco de corromper o valor absoluto de “circunstância” dado pelo autor. Sim... talvez o segredo esteja no entender dos conceitos como voláteis. Aceitar uma experiência própria e autónoma de cada ser em mim em cada momento desse todo. Sinto então que arrisco ao propor que sou resultado do roçar no paradoxo da divergência parcelar das experiências de um indivíduo, no âmbito de algo absoluto como é a circunstância do mesmo. Mas encontrarei assim a paz de Me encontrar algum dia?? Ou será minha maldição não existir e apenas vestir pele atrás de pele de "personagens de mim" criadas por mim para outrém e que absorvi de tal maneira que hoje sou apenas aquele que vê através de mim e que não mais será revelado...

sábado, outubro 27, 2012

Olá... voltei. Na realidade nunca parti. Tentei mas nunca o consegui. Senti a tua falta, apesar de seres eu e estares comigo a cada momento da minha existência. És demónio e eu pessoa. Ou eu demónio e tu reflexo do verdadeiro eu. Virei-te a cara e tentei esquecer-te. Esquecer que és parte de mim. Esquecer que és mais que isso... que és o que eu sou e que por mais que te tente exilar é contigo que converso em silêncio e é por ti que anseio. O humano em mim tenta sobreviver, mas é ridículo o esforço com que o faz. Serei o que sou e nada para além disso. Arranco-me de mim na tentativa de me fundir na cacofonia de vozes que me assombram dizendo-me como ser pessoa, e perco-me. Perco a essência de quem se esquece de si noutro plano e tento viver no sonho de estar vivo. Sinto... que estou a viver um sonho de dentro para fora. Como se desde há algum tempo, no sonho em que vivo, estivesse a sonhar que estou acordado. Que vagueio por algo demasiado real, demasiado concreto. Por algo demasiado desprovido de tudo o que me faz o que sou no sonho onde realmente estou, sonhando com o que agora vivo. Não me encontro porque não estou a aqui e o que aqui está não sou eu...

sábado, janeiro 16, 2010


Fecho os olhos. Sinto-me cansado. Desespero por um sono tranquilo. Já não recordo o último. A tormenta envolve-me.
Arrasto-me até ao espelho. Quero ver-me. Quero ver se ainda reconheço algum pedaço de mim. Não. Não reconheço. Olho o espelho e vejo algo que sabendo-o como sendo Eu, não o é mais.
A sabedoria começa onde o conhecimento acaba. E recordo-me dos ensinamentos de um sábio: "Não somos o nosso pensamento." Recordo e medito sobre tal sem saber se é uma maldição ou uma benção. Não me reconheço nos meus actos. Não me reconheço no turbilhão que é a minha mente. Sou apenas essência. Aquele que vê através de mim e que veste esta fatiota deprimente para enfrentar o mundo a cada dia que passa.
Fecho os olhos para não ver mais o ser disforme que se me é apresentado pelo reflexo. O olhar inexpressivo, um subtil esgar maquiavélico. A boca tem o sabor metálico do sangue. Sinto-me enojado. Enojado pelo que sou e não sou eu. Enojado por aquilo em que me tornei, algures no tempo passado, sem me aperceber.
Fecho os olhos e recordo-me de quando me conhecia. De quando tinha a legitimidade de poder gostar de mim. Quando tinha um sorriso sincero. Amava as coisas simples. Amava o mundo e deixava que ele me amasse. Quando brincava com profanações. Quando sustentava a minha pesada existência em pilares. Princípios. Princípios que me foram parecendo obsoletos e que hoje compreendo que eram o que fazia de mim o que era. Foram sendo derrubados. Hoje um. Amanhã outro. Sempre os mais inocentes e inofensivos. Depois aqueles que garantem a sustentabilidade da personalidade do ser. Já não era eu. Depois aqueles que garantem a sustentabilidade da sociedade. Já não era um ser social. Só um ser errante a alimentar-se dela. Depois aqueles que garantem a sustentabilidade dos sentimentos. E já não era nada. Era um monstro a que nada toca. Frio, e surpreendentemente alheio a tudo. Capaz das maiores barbaridades, sem que isso me aperte a consciência.
Hoje acordo de um pesadelo. Como me tornei nisto? Nesta coisa simplesmente alimentada de ódio.
Como é possível conter-se tanto ódio em nós? Ninguém devia ser obrigado a conter tanto ódio. A reter tanta agonia, a reprimir tanta dor. Sei que o mundo flagela outros mais do que a mim. Mas a mim o que me flagela, me corroi e me destroi é a minha mente. E contra isso, todas as defesas e racionalismos são inferiores. Consumo-me. Alguém me ajude! Apetece-me pedir, mas não consigo... ÓDIO!! Odeio cada sorriso, cada abraço, cada conversa, cada piada, cada aparentemente bela demonstração de sentimentos e afectos, que na realidade são demonstrações plenas de hipocrisia e arrogância. O Ser Humano é desprezível, unicamente digno de ser odiado! Não me aparece, por mais que procure, como um ser social.Só garantimos a sociedade para alimentar o indivíduo. O que seria da sociedade se não fosse baseada em regras formais? Seriamos como animais sociais? Não!! Seriamos como animais sim, mas numa feroz luta anárquica pelo poder, pelo prazer, pela vitória sobre o outro. Agonizo com cada olhar para um ser humano. Meu deus, como os odeio!
O sábio disse-me um dia: "Todo o ser humano é bom, está é esquecido." Como desejo que fosse assim... mas estou demasiado fundo para alimentar esperança.
Mas, acima de tudo e mais do que me acho no direito de odiar alguém, odeio-me! Odeio aquilo em que me tornei. Dói cada lembrança daquilo que fui e que não voltarei a ser. Dói cada lembrança das coisas quase inumanas que fiz. Coisas impensáveis para a mais simples das pessoas. Não suporto a convivência com a minha mente! Rejeito-me! Mutilo a minha essência em silêncio. Sobrevivendo... canibalizando.
Anseio a passagem através dos Portões de Prata. Para me reencontrar comigo. Com a multiplicidade do meu ser. Unir-me com o Universo e descansar. Esquecer a beleza do que fui e a dor do que sou e descansar... só.
A minha cabeça lateja. É desconcertante a dor. Cada vez me custa mais lidar com a torrente de pensamentos que invadem a minha mente a um ritmo avassalador! Não consigo racionalizar a avalanche. As rodas estão em movimento! Sinto a máquina... Sou assombrado constantemente por seres de outras dimensões! Fantasmas do passado, seres do futuro, todos a confrontarem-me... as teorias a auto-destruirem-se constantemente, as ligações, as conspirações, os pensamentos, os paradigmas, os dogmas, a luta contra os dogmas, visões do inferno... não consigo olhar senão para dentro, para o canto onde sou Deus e Demónio, onde Tudo acontece, onde a guerra é lutada com fogo, e que torna quase impossível achar-me ser humano, neste mundo "real". A realidade é só e só minha, todavia! Por favor, alguém que faça isto parar... anseio o fim do ódio. O descanso...
Abro os olhos. Continuo sem reconhecer o monstro no espelho. Passei o ponto sem retorno. Há coisas para as quais não há solução. Conformo-me. Arderei para sempre. Suplicaria perdão, mas sei que a tal não tenho direito. Não depois... Conviverei com o monstro que sou eu e vestirei mais um dia a pele de pessoa para conforto do mundo...

quarta-feira, dezembro 30, 2009

quarta-feira, dezembro 09, 2009


Medito sobre o erro de temer errar.
Uma esbatida sugestão da presença do fantasma. O Fantasma...
Liberto-o, esperando libertação...
Esmoreço...
Mil lâminas cravadas por mim em mim!
Punição!
A minha mente sangra... um sangue libertador...
A recordação... a culpa...
A cobardia.
Olho e vejo-o... o meu demónio. Cada vez somos mais semelhantes...
Aceito-o.
Somos um e em breve caminharemos juntos para o derradeiro Bom Combate... contra...



segunda-feira, novembro 02, 2009


Descansa...
Foste grande. Enorme! E serás sempre maior que a vida. Amor em estado físico.
Exultavas inocência, genuinidade, ao mesmo tempo que todo tu eras carinho e harmonia. Olhavas-me com esses negros olhos, grandes e brilhantes... e era indescritível a paz no seu interior. Tudo isso alimentado com um tão simples gesto de afecto. Um gesto de atenção.
Sinto ainda o afagar. O toque. O calor. O cheiro. O peso. O respirar. Oiço o suspirar. Oiço os passos. Oiço o mastigar. Oiço o chamar.
Recordo-me da alegria de cada reencontro. A euforia.
Recordo-me de cada refeição. A cumplicidade.
Partilhávamos companhia. Tu davas-te completamente com a tua presença... e nós... bem, nós esforçava-mo-nos ingloriamente, na eterna arrogância que nos define, a tentar compreender a dimensão da tua entrega, e ainda mais ridiculamente, a tentar aproximar-mo-nos da forma perfeita com que amavas. Mas sabe que se o fazíamos mais não era do que por reconhecermos tudo aquilo que eras tu, e que de tanta gratidão enche ainda os nossos corações.
A tua presença agora é lacuna, mas nunca o será. Estarás lá, sempre, naqueles sítios em que sempre te encontrávamos, com esse olhar que transportavas e a que nem o maior dos poetas, vivo ou morto, alguma vez faria justiça. Brindando-nos com uma presença tão tua, tão genuína, tão desinteressadamente honesta.
Todo tu foste dar. E lutaste sempre, com uma força que nascia do dar para o dar, e que me fará recordar tudo o que me deste. Recordo-me com o sentimento que também eu nunca te consegui nem conseguirei fazer justiça, a não ser no fundo do meu humano e como tal pequeno coração, que fazes transbordar com esse teu dom de dar sem nada esperar em troca, sem nada exigir e sem nunca esmorecer.
Lutaste tanto. Por ti. Por nós... numa vida que tentamos sempre fazer-te harmoniosa, mas que insistiu em erguer obstáculos no teu caminho. Obstáculos que foste vencendo com a tua enorme força, até ao limite. E agora descansas, como guerreiro que eras. Um exemplo de amor pela vida.
Sorrio. Sorrio com o pensamento das memórias e porque te sei lá, com eles, em paz.
Sempre grande.... maior que a vida!
Com todo o amor que tenho em mim e que nunca será todo o que tu mereces...

domingo, setembro 13, 2009

Ardo! Desdenho-me e vejo-me orgulhoso ao espelho. Dualidade no confronto de seres em mim. A simplicidade na felicidade, a felicidade na simplicidade, o prazer do ócio, o prazer do ódio, o desdém de outro, o desdém pelo outro. Só no todo. Claustrofobicamente só, em todo o universo. Só com todos os seres em mim. Sou demónio, sou Homem… o pior dos demónios! Sou Legião!
Sorrio em paz, com uma agonia profunda. Congratulo-me por conquistas, sofro por fraquezas… Sofro pelo vazio. Oh condição vil! Não me consigo libertar dessa parcela humana do Eu. E numa parcela dessa parcela permanece um vazio… um vazio que me preenche o todo. O paradoxo! Tomara estar cheio. Cheio de nada, cheio de luz. Não! Cheio de trevas, cheio de ódio, cheio de êxtase! Pois assim seria eu! E não este ser que sofre por coisas menores, reservadas ao físico, ao que flutua na tensão superficial.
Vivo tempos de mudança. Tempos de distorções na Minha Realidade. Distorções que irrompem de e para uma metamorfose em mim. Mudanças felizes, desgastantes, mas plenas de ambição, de potencial. Tão mais plenas que sublinham de forma cruel essa… essa característica tão humana e que tanto me repugna de que o Homem nunca É completamente de forma isolada. Por mais realidades e consciências em nós, nunca alcançaremos o Eu mais profundo. Corro em direcção ao Nirvana, e este foge-me por entre os dedos sorrindo com um sorriso que reconheço do meu demónio. O demónio, que troça de mim, ao ver-me aprisionado pela ideia da minha fraqueza. A minha fraqueza de me sentir assim… a minha fraqueza de procurar e não querer encontrar, de querer desesperadamente encontrar e não saber o que procurar. De necessitar mais do que de querer. De arrancar a minha pele com raiva e em seguida ajoelhar-me da forma mais humilde, pois sou fraco e necessito. Não sei a forma, só o sei como conceito abstracto que em nada encontro a forma. Exijo… demando… avalio estupidamente como se eu próprio não fosse medíocre. Mas é talvez a minha última defesa antes de me render.
Ri-se agora o maldito! O sorriso dele põe-me louco! Lá no canto, já com um pé de fora, pois sabe que se aproxima a hora de voltar a sair e de se fazer notar.
Estou “são” há demasiado tempo.