segunda-feira, novembro 02, 2009


Descansa...
Foste grande. Enorme! E serás sempre maior que a vida. Amor em estado físico.
Exultavas inocência, genuinidade, ao mesmo tempo que todo tu eras carinho e harmonia. Olhavas-me com esses negros olhos, grandes e brilhantes... e era indescritível a paz no seu interior. Tudo isso alimentado com um tão simples gesto de afecto. Um gesto de atenção.
Sinto ainda o afagar. O toque. O calor. O cheiro. O peso. O respirar. Oiço o suspirar. Oiço os passos. Oiço o mastigar. Oiço o chamar.
Recordo-me da alegria de cada reencontro. A euforia.
Recordo-me de cada refeição. A cumplicidade.
Partilhávamos companhia. Tu davas-te completamente com a tua presença... e nós... bem, nós esforçava-mo-nos ingloriamente, na eterna arrogância que nos define, a tentar compreender a dimensão da tua entrega, e ainda mais ridiculamente, a tentar aproximar-mo-nos da forma perfeita com que amavas. Mas sabe que se o fazíamos mais não era do que por reconhecermos tudo aquilo que eras tu, e que de tanta gratidão enche ainda os nossos corações.
A tua presença agora é lacuna, mas nunca o será. Estarás lá, sempre, naqueles sítios em que sempre te encontrávamos, com esse olhar que transportavas e a que nem o maior dos poetas, vivo ou morto, alguma vez faria justiça. Brindando-nos com uma presença tão tua, tão genuína, tão desinteressadamente honesta.
Todo tu foste dar. E lutaste sempre, com uma força que nascia do dar para o dar, e que me fará recordar tudo o que me deste. Recordo-me com o sentimento que também eu nunca te consegui nem conseguirei fazer justiça, a não ser no fundo do meu humano e como tal pequeno coração, que fazes transbordar com esse teu dom de dar sem nada esperar em troca, sem nada exigir e sem nunca esmorecer.
Lutaste tanto. Por ti. Por nós... numa vida que tentamos sempre fazer-te harmoniosa, mas que insistiu em erguer obstáculos no teu caminho. Obstáculos que foste vencendo com a tua enorme força, até ao limite. E agora descansas, como guerreiro que eras. Um exemplo de amor pela vida.
Sorrio. Sorrio com o pensamento das memórias e porque te sei lá, com eles, em paz.
Sempre grande.... maior que a vida!
Com todo o amor que tenho em mim e que nunca será todo o que tu mereces...