quarta-feira, agosto 29, 2007


Hail! Regresso...

Hibernei na superfície, tentando adormecer o Demónio, tentando viver. Tentando olhar o concreto e aprender a beleza daquilo que nos é mostrado num primeiro vislumbre. Mas... mas ele esteve sempre lá, silencioso mas presente, baixando a face imperceptível enquando que, com o braço estendido, me pesava na mente e me puxava para baixo. Tenho tentado de todas as formas sobreviver... ou será que tenho tentado manter vivo algo que não sou eu? Se calhar eu sou algo mais próximo do Demónio do que da pessoa que tenho tentado ser. Todavia sinto-me fraco perante o mundo e uso, dia após dia, a máscara, ao invés do confronto.

Agora o Demónio acordou da sua letargia em todo o seu poderio, olhando-me de frente e fazendo-me temer o pior. Olho, com receio, os seus olhos, que mais não são do que os meus, e tremo com a sua escuridão, a sua frieza, o seu alheamento, que ameaçam consumir-me.

Reflicto sobre o porquê do seu despertar e deparo-me com ele, o outro, o fantasma.

Tenho um fantasma que me acompanha há anos e com o qual o Demónio regojiza fazer-me confrontar porque sabe que perante ele sou ainda mais fraco, e que temo, e que sofro.

O fantasma... como era lindo que não existisse... esse fantasma que eu adoro e que não concebo ver desaparecer... o fantasma de alguém real, de alguém que fez parte de mim e que eu arranquei de mim... o fantasma que o racional diz não poder existir, mas que o emocional constrói e reconstrói... o fantasma de alguém que seguiu o seu destino, arrancado de mim, sem nada de mim, enquanto que eu permaneci com o fantasma, meu, só meu, uma concepção estática do que foi, daquilo que eu sei que mudou, mas que como fantasma não muda nunca. É pano de fundo das minhas vivências. Amo-o e temo-o... Amo? Como posso amar um fantasma? Será que amo aquele que arranquei de mim? Mas isso não é racional, o tempo foi longo, as mudanças imensas... em mim, nesse ser... Amo o que foi e o que queria que viesse a ser. Quero-me resignar, mas as emocões abalrroam-me como legiões que não controlo.

E agora, num momento de descontrolo controlado o fantasma surge como desiquilibrador... Sinto-me a afundar, a sair de mim... e o Demónio sorri... é pérfido... sai do seu canto escuro, onde esperou pelo momento certo e avança, pronto para me enfrentar. Apetece-me gritar por socorro, mas não tenho forças e quem me pode salvar não me escuta...

Lá está ele, o fantasma... agora mais visível no fundo da minha mente. Parece mais reluzente que nunca. Porquê? Rio-me de mim... É óbvio o porquê! O porquê foi o reencontro. O reencontro com o ser que serviu de molde ao meu fantasma. Aquele ser que me deslumbra... perto do qual eu não sou ninguém... só pode existe "nós"... só pode ser assim... nem que seja na minha mente. Sim, na minha mente... já que não existe nada nem sequer semelhante no mundo concreto. Sofro. Fico feliz pelo reecontro apesar de saber do sofrimento. Sofro.

Ela lá estava... real... por momentos pareceu que voltava no tempo, mas percebi que só eu me mantive no passado... o mundo gira... porquê??

Sofro.

Penso no ridículo dos meus pensamentos, dos meus sentimentos... Penso que os sentimentos nunca podem ser ridículos... Porém não os posso exprimir perante ela... não consigo... temo. O racional diz-me que não... e depois o emocional diz-me que deveria ter...

Que pode perder um homem que já só tem um fantasma?

Sou vulcão. A pressão concentra-se e ameaço ceder... entrar em convulsão... em colapso... explodir!!

Fecho por momentos o olhos, cansado. Volto atrás no tempo e relembro com nostalgia os pormenores. Só os pormenores são importantes.

O passado não existe.

Mas assombra-me. Assombra-me o erro... o arrancar de mim... o virar as costas à beleza da essência do todo que existia...

Abro os olhos e o Ele continua a olhar-me, com o seu sorriso. Sinto o seu sopro gelado.

Quero-me deixar levar por ele, mas ele sussurra que não, que tenho que ficar aqui, que o meu destino ainda não me deixa para de sofrer. Quero desistir, mas ele não me deixa ter coragem.

Não sou um todo... a assombração limita o meu ser.

E assim flutuo, nas linhas da existência. Com um demónio a meu lado e um fantasma no cenário.

Ambos a sorrir dizem em simultâneo. "Nada é real. Sou só eu. Sou só eu."