sexta-feira, junho 02, 2006


Desde algum tempo a esta parte tenho andado arredado destas confissões. E isso porque a vida às vezes é rápida demais para poderes pensar no que pensas... Mas agora sim, sinto novamente necessidade de me exprimir, pois a vida volta a ser minha inimiga. Volta a querer arrancar-me do seu cenário e eu tento-me a ceder. E o meu escape é a minha mente, pois o que nela reside só a mim pertence. Assim caminho, numa rua onde o sol brilha, queimando-me as costas vestidas de negro, enquanto deambulo, em vertigem, como se tudo fosse um sonho mau demais para ser real e penso nos porquês. Olho para o lado e ele está lá, o meu demónio, a olhar-me... ele não se ri porque sabe o que a lourcura pode levar um homem a fazer, mas provoca-me com a sua presença. Chego ao meu covil, apago as luzes enquanto a música ruge de forma magnânime e agressiva, abafando os ruído do urbano mundo real. Coloco-me confortável, sabendo que dali a pouco me vou enfrentar de forma peculiar e brutal. Fecho os olhos e observo as trevas... ignoro o que me rodei e concentro-me no nada... então surge a elipse disforme tal fumo e na sua cor indiscriminável puxa-me. Avanço para ela. Passando a estranha elipse que sempre povoa a minha mente como porta para o introspectivo desapareço... não me sinto e por breves segundo consigo flutuar, sentindo que não sinto, pensando que não penso e então volto a sentir o chão debaixo de mim. Estou pronto para começar a contenta. A energia agonizante implora por se soltar em ódio e raiva e então rasgo as roupas, cravo as mãos na minha carne e arranco-a selvagicamente enquanto o sangue jorra e levanto a cabeça num grito assombroso enquanto sinto as ondas de dor a percorrer-me. Então, subitamente deixo-me cair e permaneço assim, de cabeça baixa, que nem um animal derrotado e resigno-me à realidade. Agora mais livre, mais sereno... abro os olhos. A música continua a pulsar em riffs enérgicos e o quarto continua escuro. Acendo a luz... apago a música e olho-me no espelho. Nada mudou. Continuo a ver em mim uma carcaça vazia... cada vez mais vazia e sem expressão. Ponho a minha perfeita máscara de humano e saio com aquele falso sorriso que as pessoas identificam como sendo meu mas que em nada se parece com o que preenche este corpo ridículo, com essa essência que desespera por normalidade. Saio calmamente mas triste, sabendo que fui vencido. Mais uma vez a vida venceu-me e eu nada pude para a contrariar... e assim sofro. Sofro ansiando pelo fim... o fim do sofrimento, o fim de tudo! E penso que posso ser eu a determinante do meu fim, pois afinal... o que assombra a minha mente só a mim pertence...